Recentemente,
a cervejaria Petrópolis divulgou, junto com o lançamento de um novo rótulo, uma
pesquisa sobre o crescimento das cervejas especiais no Brasil: 20% contra 4% do
mercado das cervejas comuns.
O interesse pelos produtos artesanais e de
microcervejarias, que oferecem mais personalidade e tipos da bebida, cria outro
foco de atenção que corre em paralelo, o das cervejas caseiras.
Sem
pesquisas e números oficiais para endossar, o aumento dos chamados ‘home
brewers’ é notado pela movimentação dentro do universo cervejeiro. Em sites,
redes sociais, confrarias e associações, é sensível o interesse cada vez maior
do consumidor da cerveja premium de experimentar a sua própria produção ou
degustar a de outros cervejeiros amadores.
Bom termômetro,
a criação de uma associação voltada à cultura da cerveja caseira confirma o
crescimento do nicho. A iniciativa partiu de uma comunidade da rede social
Orkut, que foi ganhando mais adeptos e tornou-se oficial. A primeira a ser
fundada, no Rio de Janeiro, cunhou a sigla Acerva (Associação de Cervejeiros
Artesanais). Logo, São Paulo e outros sete estados seguiram o exemplo e
aderiram ao nome.
Cada Acerva funciona de maneira autônoma, algumas cobram
mensalidade, outras não e cada uma tem seu estatuto. Mas o objetivo e as ações
de todas são semelhantes: realizar cursos, promover encontros, produções
coletivas e degustações.
“Começamos
a abrir alguns encontros também para aqueles que ainda não produzem cerveja
caseira, mas têm interesse no assunto. É uma forma de as pessoas conhecerem
essa atividade”, conta Philip Zanello, um dos diretores da Acerva paulista.
O
engenheiro Jaime Pereira Filho, proprietário do bar paulistano Píer 1327,
localizado na Vila Mariana, está espantado com o brusco aumento da procura pelo
curso de cerveja caseira que ministra no bar há pouco mais de dois anos. “É um
curso rápido, que ensina todo o processo em duas aulas. Eu costumava ter uma
turma por mês, agora é diário e há uma fila de espera de três meses para os
interessados”, comenta.
Ainda que
tenha ares de novidade, a produção das cervejas no quintal de casa é algo muito
antigo, vem dos mosteiros seculares que já fabricavam a bebida bem antes de
serem criadas as primeiras grandes cervejarias. Na Idade Media, cabia aos
padres e às mulheres este preparo, que era parte da dieta cotidiana de
proletários e burgueses.
Malte: cerveja varia
de acordo com os tipos e as proporções de maltes usados na receita
HOBBY LEVADO A SÉRIO
Quem é
“convertido” ao universo da cerveja caseira leva a diversão a sério. Se
produzir uma cerveja básica é questão de saber seguir a receita, criar bebidas
com características peculiares e estabelecer algum padrão torna-se um grande
desafio. Para quem quer seguir a lei de pureza alemã, que só permite o uso dos
ingredientes básicos na composição (água, malte de cevada, lúpulo e fermento),
é possível variar o resultado de acordo com o tipo de malte e lúpulo usado,
além das quantidades utilizadas, que vão definir um sabor mais adocicado ou
mais amargo, mais tostado ou mais frutado, entre outras características
sensoriais.

Um desses
campeonatos ocorreu em julho, promovido pela Acerva Paulista e pela
microcervejaria Bamberg, de Votorantim, interior de São Paulo. Na ocasião, 31
cervejeiros caseiros do estado competiram com suas receitas, restritas ao
estilo inglês conhecido como ESB. Um juri de treze experts deu as notas que
sagraram Guilherme Alberici Di Santi campeão. O prêmio? Ter sua cerveja
produzida pela Bamberg durante um ano.
A Eisenbahn
é outra que homenageia a produção caseira: pelo terceiro ano, o melhor mestre
cervejeiro amador, segundo competição organizada pela microcervejaria, ganha
uma linha especial produzida na fábrica. Em 2010, o rótulo São Sebá, uma
Belgian Dubbel criada pelo paranaense Sandro Singer, chega ao mercado em uma
série limitada de 3.000 garrafas.
Para além
da diversão, o sucesso obtido com um rótulo caseiro pode significar uma mudança
do hobby para uma possível profissão. O designer gaúcho Maurício Gonçalves vive
exatamente essa situação. Ele e o irmão Lúcio começaram a produzir cerveja
caseira por diversão no ano passado, mas a bebida foi fazendo sucesso com
amigos, ganhou rótulo e caiu no boca a boca dos cervejeiros.
Hoje, o
rótulo Goyoaga Euskal Garagardo (nome basco em homenagem às origens da
família), uma pilsen sem clarificantes e não pasteurizada, é produzida de duas
a cinco vezes por semana e vendida em bares da Cidade Baixa, região boêmia de
Porto Alegre. “Já fornecemos até para um evento de lançamento de livro em junho
deste ano, quando foram consumidos 60 litros”, conta Mauricio orgulhoso.
Lúpulo: é responsável por conservar e definir
o nível de amargor da cerveja
PARA COMEÇAR
Quem quer
se aventurar pelo mundo das cervejas caseiras deve ter algum conhecimento e
estrutura. O mais indicado é acompanhar o trabalho de algum conhecido que faça
a cerveja para ver se a atividade realmente lhe atrai é preciso lembrar que
produzir cerveja caseira requer tempo, dedicação e investimento. Não se trata
só de beber. Em seguida, um curso rápido dá a base necessária que só o tempo vão
aprimorar a técnica de “mestre cervejeiro”.
Mas, para
produzir sua própria cerveja é preciso montar uma nanocervejaria em casa. Jaime
Pereira diz que o kit básico tem custo aproximado de 500 reais e ocupa o mesmo
espaço que um botijão de gás. O “maquinário” consiste de duas panelas grandes
de alumínio, uma balança, uma colher grande de polipropileno, um termômetro culinário,
uma peneira, um fermentador (um balde hermeticamente fechado com saída de
válvula e uma torneira para engarrafar), mangueiras de transferência, um
densimetro, um dispositivo para fechar garrafas e um moedor de cereais.
Montada a
“fábrica”, é preciso buscar os insumos, não tão fáceis de serem encontrados em
todo o Brasil. “Não há lojas que vendam malte e lúpulo em São Paulo, por
exemplo. Mas há fornecedores do Rio Grande do Sul que distribuem os produtos
via internet”, sugere Jaime. O estado é onde a cultura da cerveja caseira se
nota mais presente, certamente pela influência da comunidade alemã na região.

RECEITA BÁSICA DA CERVEJA CASEIRA
Fonte: Jaime Pereira Filho. Fone: (11) 2597-7231
Ingredientes
- 35 litros
de água mineral de boa procedência
- 6 quilos
de malte claro e escuro
- 20 gramas
de lúpulo
- 11,5
gramas de fermento
Links para consulta: