Se há dinheiro para se fazer a Copa das Copas, tem de haver
dinheiro para equipar hospitais e salvar vidas.
Até quando você vai permitir que isso continue acontecendo?
A cena choca. A cena revolta. A cena faz você pensar. A cena
não acha respostas. A cena provoca inúmeras perguntas.
Como permitimos que a Saúde chegasse ao limbo?
E de que adianta esses relatórios produzidos pelo Tribunal
de Contas da União (TCU) senão o de atestar o que todo mundo já sabe?
Segundo relatório do TCU, depois de visitarem 116 hospitais
gerais e prontos-socorros em todos os estados e no Distrito Federal, chegou-se
a conclusão de que 81% das unidades têm déficit de médicos e enfermeiros e que,
em 56% delas, faltam remédios e ataduras em razão de falhas nas licitações.
Os números impressionam, ou pelo menos deveriam. Só que eles
só impressionam mesmo quem sofre na pele o caos. Nossos deputados, senadores e
governantes têm seus planos de saúde, tornando a questão não prioritária na
gestão deles. Na verdade, a questão nunca foi uma prioridade.
O problema é até estranho, pois há dinheiro, isso é óbvio
pra mim. Se há dinheiro para se fazer uma Copa, que segundo a presidente será a
Copa das Copas, tem de haver dinheiro para a Saúde. O que não há é vontade
política. Senão qual outra explicação? A burocracia das licitações? O que dizer
das inúmeras obras começadas e esquecidas, das obras prometidas, dos aparelhos
de tomografia e de ressonância magnética comprados e parados sem uso porque
faltou um maldito documento ser assinado ou faltou uma guia?
Que administração é essa? Põe o aparelho para atender a
população e depois resolve essa questão. Os pacientes podem não ter esse tempo
para esperar.
Não podemos ser um país sério. Não podemos ser um país do
século XXI. Não somos um país sério. E infelizmente estamos no século XXI com
governantes com a cabeça na idade da pedra, onde o tratamento médico era na
base da porrada.
SÓ MUDA DE ENDEREÇO
A foto acima é do Hospital Salgado Filho no Rio de Janeiro,
onde a paciente aguarda atendimento deitada no chão da enfermaria. Mas ela
poderia ter sido tirada em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, João Pessoa, no
Acre, no Amapá, no Amazonas ou em Brasília. A única diferença seria o endereço.
Mais nada. Absolutamente mais nada. O descaso, a falta de respeito à vida e ao
ser humano são os mesmos.
Somos tratados como mercadoria que pode ser jogada no chão
até chegar o nosso momento. Só que o nosso momento pode ser tarde demais.
Nenhum país sério obriga o paciente a enfrentar uma fila de
horas, às vezes dias, para se conseguir apenas uma senha, para aí sim conseguir
marcar uma consulta que será para daqui a meses. Existem pessoas que não têm
esse tempo. A doença, essa não reconhece o tempo do governo. Ela é cruel. Assim
como o governo também é. Aliás, uma das doenças é o próprio governo.
As palavras compaixão, respeito, apreço estão
definitivamente banidas do vocabulário de Dilma & Cia.
Promessa de governo em que a Saúde é prioridade é conversa
para boi, vaca, bezerro e porco dormirem.
Se somos conhecidos como um dos países mais hospitaleiros do
mundo, somos também o lanterninha em quantidade de leitos por habitantes.
Perdemos apenas para a Turquia.
Só para ilustrar, em 2013 o Brasil tinha apenas 2,51 leitos
por mil habitantes. Já a média dos países-membros da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) era de 4,8 leitos por mil
habitantes. Na União Europeia, de 5,3.
NO PAÍS DA COPA A
SAÚDE QUE SE EXPLODA
E enquanto isso a presidente vem ao Rio de Janeiro olhar
como estão às obras da expansão do metrô e fazer ti-ti-ti blá-blá-blá com o
governo do estado visando apoio à sua reeleição.
A saúde que espere. A saúde que se exploda.
E é isso que está acontecendo, nossa saúde está abandonada
no país da Copa das Copas.
Quem vai pagar por mais esse malfeitos, presidente Dilma?
Não vai ser você. Somos nós, só que dessa vez com nossas próprias vidas.
Sei que não é fácil administrar um país, ainda mais um da
dimensão do Brasil, mas ao mesmo tempo eu sei que muita coisa poderia ser
diferente se houvesse um real interesse da parte do governo para que essa parte
da máquina funcionasse. O governo tem recursos, tira daqui um pouco, dá uma
concessãozinha e tudo seria resolvido. É simples? Acho que não. Mas também não
é um bicho de sete cabeças. Com a quantidade de impostos que pagamos e que
vocês recolhem daria para ajeitar o país. Temos uma das cargas tributárias mais
altas do planeta e parece que os benefícios que deveriam vir daí de volta para
nós se perde no meio do caminho em compra de votos, desvio de verbas, em
cuecas, meias, empresas fantasma, laranjas que fazem a mágica de sumir com o
dinheiro, que nunca chega. É quase como o ditado: “Eu não acredito em bruxas,
mas que elas existem, existem”. É algo assim. O dinheiro até existe, mas ao
mesmo tempo é como se não houvesse um tostão nos cofres públicos, pelo menos a
parte do dinheiro que seria destinada ao povo e ao seu bem estar.
Por Claudio Schamis.