A Copa do Mundo de futebol termina com um sabor amargo para
os brasileiros, ainda que, pelo lado da logística e da receptividade aos
estrangeiros, tenha sido um sucesso. Um enorme sucesso. O cenário que se
apresentou surpreendeu. As manifestações não incomodaram. Os sindicatos deram
um tempo em suas reivindicações. Até mesmo a bandidagem ficou quieta.
Ninguém contava mesmo com um vexame futebolístico. O caos
esperado não ocorreu. Os problemas, de modo geral, foram superados. Os turistas
ficaram felizes, e a impressão generalizada dos estrangeiros foi a de que tudo
correu bem. Menos com o futebol brasileiro, que decepcionou imensamente.
Paradoxalmente, a imagem do Brasil no exterior fica fortalecida pelo sucesso da
Copa. O insucesso do futebol incomoda mais do que atrapalha. Os milhões que
passaram por aqui serão, em sua maioria, divulgadores do nosso país. No limite,
o que importa para as eleições? Em especial, o que muda no pós-derrota para a
Holanda? Dilma será prejudicada? A oposição levará vantagem? Basicamente,
teremos um agravamento temporário do sentimento negativo. Apesar de termos
organizado bem uma Copa, fomos muito mal em campo, e, para a imensa maioria da
população, isso é motivo de tristeza, decepção e mau humor. Perdemos uma imensa
chance de ter uma alegria generalizada caso o Brasil ganhasse a Copa. Por outro
lado, a seleção sempre transmitiu mais esperança do que otimismo. Esperança que
se esvaiu antes mesmo dos 30 minutos do primeiro tempo do jogo contra a
Alemanha. De forma geral, a maneira em que terminamos a Copa é muito ruim.
Analistas ouvidos, divididos entre os sentimentos de
torcedores e observadores isentos, pontuaram – em sua maioria – que Dilma seria
prejudicada na campanha. Obviamente, o que vimos nos campos não é bom para a
presidente Dilma Rousseff e o governo. Por outro lado, a responsabilidade não é
dela nem do governo. O fracasso nos campos será atribuído ao técnico e aos
jogadores, que não corresponderam. Tratando-se de futebol, o povo sabe muito
bem de quem é a responsabilidade. Assim, em algumas semanas, a decepção terá
sido assimilada e deverá estar superada. O front das dificuldades de Dilma será
mesmo a economia, que não anda bem, ou algum fator novo. Tal como um escândalo
ou uma grave crise. Para a oposição, a Copa não foi ruim, tampouco foi bem. Não
alavancou ninguém nem atrapalhou muito o governo. Foi um “pause” na política,
na qual quem tinha tudo a perder era Dilma. Não foi assim. Com o fim do evento,
o cenário se abre para as eleições. Em menos de uma semana teremos o noticiário
sendo ocupado pela disputa política. Mas, para a maioria do eleitorado, não
será uma transição automática de interesses. O país ainda vai viver algumas
semanas de letargias política e eleitoral, ajudadas pelo recesso no Legislativo
e pelas férias do meio do ano.
A “sinistrose” prevista e não ocorrida tende a dar algum gás
para o governo, que deveria aproveitar a oportunidade para fazer um balanço em
rede nacional do que foi a Copa como evento. A campanha eleitoral começará de
verdade em agosto, com o início da propaganda política. Até lá, o debate vai
seguir em ritmo lento, tropical e relaxado, o que, de certa forma, favorece
Dilma, já que, quanto menor for a campanha, melhor para ela. Menos tempo para
as coisas darem errado.