Por Luciano Pires
Escrevi um texto sobre a Ética da Agressão, no qual comentei
sobre a situação atual no Brasil quando parece aumentar a quantidade de pessoas
que não conseguem argumentar e apelam para o xingamento e desqualificação dos
interlocutores. Mas existem momentos em que o confronto, mais que esperado, é
necessário.
Na retomada do julgamento do mensalão, em Agosto de 2013,
assistimos a mais um confronto entre o Presidente do STF, Ministro Joaquim
Barbosa, e seu colega Ricardo Lewandowski. A razão é conhecida por todos:
Levandowski age como advogado de defesa dos réus, tentando de qualquer forma
encontrar meios de reduzir suas penas, para isso até mesmo revendo votos já
dados ou criando interpretações marotas para leis. Joaquim Barbosa, já cansado
das malandragens de Lewandowski, o interpelou de forma dura, acusando-o de
querer fazer “chicanas”. Aconteceu então uma áspera discussão que se prolongou
nos bastidores. Chicana, no mundo Jurídico, quer dizer dificuldade criada pela
apresentação de um argumento com base em um detalhe ou ponto irrelevante; abuso
dos recursos, sutilezas e formalidades da justiça; trapaça, tramóia. A dura
interpelação de Barbosa custou-lhe críticas. Ele foi chamado de intempestivo,
descontrolado, mal humorado, desequilibrado, que age em desacordo com a
liturgia de seu cargo, etc. E várias entidades vieram a público com desagravos
ao pobre Lewandowski, que foi maltratado pelo malvado Joaquim.
Na década de 1990, Rorion Gracie criou nos EUA um campeonato
onde lutadores de várias modalidades se enfrentavam praticamente sem limites.
Era o Vale Tudo, que tinha por intenção mostrar que o Jiu-Jitsu, especialidade
dos Gracies, tinha supremacia sobre qualquer outro estilo de luta. Mais tarde o
Vale Tudo se transformou no UFC – Ultimate Fight Championship. Naquela época,
os lutadores do UFC eram especialistas. Embora hoje os especialistas estejam em
baixa, ainda há lutadores que têm como ponto forte a “trocação”, a porrada.
Saem batendo, chutando, dando cotoveladas, e algumas vezes conseguem nocautear
o adversário. É sempre um espetáculo violento, não raro com o ringue cheio de
sangue, o que leva a platéia ao delírio e choca os que não conseguem engolir
tanta violência.
Já o Jiu-Jitsu é uma arte suave. Não tem porrada. É saber
aproveitar movimentos leves, sinuosos, que acabam levando à submissão do
adversário. Sem sangue, sem violência.
Joaquim Barbosa é um trocador num ambiente do Jiu-Jitsu, faz
barulho, tira sangue, nocauteia o adversário. É tudo menos suave. Gosta mesmo é
de trocação. É um pugilista, um lutador de Muay-Thai, esse é seu estilo, no
qual se sente bem. Quando acerta o ponto, é nocaute. Mas tem gente que fica
indignada com a brutalidade, a violência.
O maior campeão de Jiu-Jitsu no UFC foi Royce Gracie, que
bateu adversários muito mais fortes, pesados e agressivos, por vários anos. Até
encontrar especialistas em trocação que treinaram Jiu-Jitsu. Então a arte suave
deixou de ter supremacia. Ganha quem se especializa em várias modalidades, que
dá porrada quando precisa e parte para a arte suave quando necessário.
Eu gosto do estilo do Joaquim Barbosa. Acho que falta ao
Brasil gente assim, que chama as coisas pelo nome que elas têm, que explode
quando se sente tratado como idiota. Que parte para a porrada quando acha que é
preciso.
Para ficar no ponto, só falta treinar Jiu-Jitsu.
Só então os confrontos necessários realmente valerão a pena.