“Não vejo com bons olhos a perpetuação no poder, mesmo que legal e
constitucionalmente. O ser humano não é confiável a tal ponto. Alguma hora o
poder sobe à cabeça. A democracia acaba se transmutando numa ditadura
disfarçada, onde o governo usa o “rolo compressor” para fazer valer suas
políticas”.
A democracia é um processo evolutivo. Às vezes lento, às
vezes injusto, mas é o melhor do pior, como alguém já falou antes. Qual seria
outra alternativa? Difícil responder. Qualquer outro sistema sempre pode
esbarrar no autoritarismo.
Mas a grande e inquestionável vantagem da democracia é
reconhecer a falibilidade do ser humano, ou seja, entender que ninguém é dono
da verdade absoluta, que ninguém pode achar que o seu ponto de vista é o certo
e os outros sempre estão errados. E, principalmente, que todo mundo quer fazer
um bom trabalho, quer fazer a diferença, quer deixar o seu legado nesta
existência, seja no trabalho, seja na família, em todas as relações sociais.
Claro que há exceções, e elas devem ser tratadas assim: como exceções, não como
regra.
Visto isto, podemos começar a tecer algumas considerações
sobre a democracia brasileira. Acho que não preciso enumerar todas as suas
falhas e desvios. São muitos! Mas estamos construindo-a. Basta lembrar que já
foi muito pior. Um desses preceitos básicos da democracia é, sem dúvida, a
alternância no poder. Alguém vai perguntar: por que alternar quando está dando
certo? Aí começamos o diletantismo. Quem disse que está dando certo? O que é
“dar certo” para cada um? Pode estar dando certo em alguns quesitos, em outros
não. O que eu espero de um governo?
Questões bastante controversas, não é verdade? Mereceria uma
discussão mais alongada e dialética. É exatamente isso: dialética. Cada pessoa
é diferente da outra, cada pessoa pensa diferente do outro. Graças a Deus! A
evolução nasce da diversidade, não da igualdade.
Pensando assim, não vejo com bons olhos partidos que se
acham mais merecedores do poder que outros. Não vejo com bons olhos a
perpetuação no poder, mesmo que legal e constitucionalmente. O ser humano não é
confiável a tal ponto. Alguma hora o poder sobe à cabeça. A democracia acaba se
transmutando numa ditadura disfarçada, onde o governo usa o “rolo compressor”
para fazer valer suas políticas. Num país como o nosso, onde os partidos não
são ideologicamente claros e definidos, onde o fisiologismo impera, onde a
relação de poder se dá na base do “toma lá, dá cá”, isso se torna um grande
problema, um dos tais desvios que mencionei anteriormente.
Coloco essa questão para que todos possam refletir. Sem
querer influenciar ou dissuadir ninguém. Precisamos ficar atentos às tentativas
de usurpar a democracia, mesmo sendo esta tão falha e ineficiente. O que
devemos fazer é lutar por uma democracia mais completa. Melhorar as
instituições democráticas, melhorar a educação das pessoas para que elas possam
fazer reflexões mais profundas como esta que faço agora. Que, na hora do voto,
o eleitor analise todos os aspectos do governo e da oposição, não pense apenas
na sua condição financeira. E,
principalmente, que ele não se deixe influenciar por mitos, lendas, etc. Os
caras que vamos colocar na presidência, nos governos estaduais, nas câmaras e assembleias,
nas prefeituras, são nossos empregados. Pagamos seus salários para administrar
a coisa pública. Eles têm que fazer um bom trabalho. Isso é obrigação. Não
devemos cultuar ou idolatrar A ou B porque melhoraram as condições da
população. Devemos é exigir mais. E, também, pensar em outras alternativas,
outras pessoas, outra administração. Se errarmos, tiramos de lá, porque quem
manda é a gente. Eles são apenas subalternos.
Por Marcelo de Abreu e Lima