Antes mesmo
de praticar a violência nas ruas para sustentar o vício, dependentes químicos
têm suas vidas e famílias destruídas e serem mortos por não pagar dívidas de
tráfico e quase só uma questão de tempo.
Por Xandu Alves S. J. dos Campos/SP
A droga é
amante da violência. E elas não aceitam discutir a relação. Aprisionam em um
espiral de medo e desespero, não raro terminando em morte, quem busca o flerte.
Em pouco tempo, usuários de drogas e seus familiares se tornam reféns no
círculo de destruição.
Não há amor
que dure diante da droga. Nem entre mãe e filho. Bem o sabe a doméstica I.S.,
42 anos, que acorrentou o filho de 13 anos no sofá de casa para evitar que ele
consumisse crack.
Ela morava
na região sul de São José e tentava tirar o filho do vício desde os 10 anos.
Não conseguiu. A saída foi acorrentá-lo para evitar a morte do menino.
“Se aquilo
não terminasse, a única solução era matar meu filho e depois me matar. Não
havia mais vida”, disse ela, que mandou o jovem para morar com o pai, no Piauí,
no ano passado, para vê-lo longe dos traficantes.
Tragédias.
Duas
facadas no peito do filho. Assim terminou a relação do rapaz de 27 anos com sua
mãe.
Ela fugia
de uma tentativa de estupro dele, que era viciado em crack, quando o rapaz
pegou uma faca e a ameaçou. Eles brigaram e, com duas estocadas no peito, a mãe
matou o filho.
A família
morava no Motorama, na zona leste de São José, e o crime ocorreu em fevereiro
do ano passado.
Sem
antecedentes criminais, uma mulher de 53 anos, de Taubaté, foi assassinada
ontem com três tiros na cabeça por dois homens em uma moto. Para a polícia, o
crime pode ter sido uma represália ao filho dela que está preso.
Há medida
para o tamanho da destruição na vida dessas famílias? E na de centenas de
usuários de drogas que ganham as ruas, diariamente, nas cidades do Vale do Paraíba?
A cada
tragada de crack, a ligação familiar se rompe um pouco mais até não existir
vínculo algum. Os dependentes e seus familiares vivem à mercê do crime.
Degradação.
Entre ratos e baratas, o morador de rua A.S.S,
41 anos, sustenta o vício de duas décadas.

Vindo do
Piauí, há 20 anos, onde deixou mulher e dois filhos, A. pretendia voltar depois
de melhorar de vida.
Não deu
tempo. Ele caiu na farra e virou refém das drogas. Nunca mais mandou notícia à
ex-esposa. Acabou sozinho na cidade, entregue ao vício.
Pânico.
Caminho
parecido fez um usuário de drogas que buscou tratamento no Caps-Ad (Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) de São José, no final de 2011.
Ele
entregou-se ao vício durante 23 anos. Flertou com a morte e acha que foi
poupado por Deus. “Tomei coragem depois que meu filho pediu para não usar mais
drogas”, disse.
Hoje, aos
42 anos, ele marca com orgulho o tempo que está sem se drogar: “dois meses e 24
dias”. Sabe que é uma luta interminável e da qual não se pode abaixar a guarda.
“Crack é a
droga do pânico. Eu vivia com medo de a minha família descobrir meu vício. Tinha
alucinações com isso.”