Por Carlos Chagas
Confirmam amigos chegados ao presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa: ele pedirá aposentadoria antes de ser sucedido, em
abril do próximo ano, pelo ministro Ricardo Lewandowski, na direção maior do
Poder Judiciário.
Motivo: o desmonte do mensalão, que começará logo depois da
mudança na presidência da mais alta corte nacional de Justiça.
Como? Através de manobra já engendrada pelo PT e pelos
advogados dos mensaleiros, com a aquiescência de Lewadowski, que permitirá a
REVISÃO dos processos onde foram condenados 25 implicados num dos maiores
escândalos da história da República. Estaria tudo coordenado, apenas aguardando
a mudança da guarda. Apesar de a revisão de processos constituir-se em exceção
na vida dos tribunais, pois acontece apenas com o surgimento de fatos novos no
histórico das condenações, já estariam em fase de elaboração os recursos de
quase todos os hoje condenados, a cargo de advogados regiamente remunerados,
junto com outros ideologicamente afinados com o poder reinante.
Nada aconteceria à margem de discussões e entreveros
jurídicos, mas a conspiração atinge a composição atual do Supremo Tribunal
Federal. E a futura, também. O término do mandato de Joaquim Barbosa na
presidência da Corte Suprema marcaria a abertura das comportas para a
libertação dos criminosos postos atrás das grades e daqueles que se encaminham
para lá.
Joaquim Barbosa não estaria disposto a assistir tamanha
reviravolta, muito menos a ser voto vencido diante dela. Assim, prepara seu
desembarque. Pelo que se ouve, não haverá hipótese de mudar a decisão já
tomada, mesmo ignorando-se se aceitará ou não transmudar-se para a política e
aceitar algum convite para candidatar-se às eleições de outubro. Tem até abril
para decidir, apesar das múltiplas sondagens recebidas de diversos partidos
para disputar a presidência da República.
A informação mostra como são efêmeros os caminhos da vida
pública. Até agora vencedor inconteste na luta contra a corrupção, reconhecido
nacionalmente, Joaquim Barbosa pressente a curva no caminho, não propriamente
dele, mas dos mesmos de sempre, aqueles que conseguem fazer prevalecer a
impunidade sempre que não se trata de punir ladrões de galinha.
Afinal, alguns meses de cadeia podem machucar, mas se logo
depois forem revogados através de revisões patrocinadas pelas estruturas
jurídicas postas a serviço das elites, terão passado como simples pesadelos
desfeitos ao amanhecer. Não faltarão vozes para transformar bandidos em heróis.
A reação do ainda presidente do Supremo de aposentar-se ficará como mais um
protesto da luz que se apaga contra a escuridão que se aproxima.
O IMPERATIVO CATEGÓRICO
Enquanto esse horror não se configura, seria bom meditar
sobre o sentimento ético. Pode-se ceder diante do império das circunstâncias,
mas existe entre nós, indivíduos e nações, o imperativo categórico de que
falava Kant, o incondicional comando de nossa consciência para agir como se a
máxima de nossa ação fosse tornar-se uma lei universal da natureza. Há que
evitar o comportamento que, se adotado por todos, tornaria a vida social
impossível. Embora possamos adotar a mentira, não poderemos aceitá-la como
alternativa.
Uma decisão da Justiça não é boa porque trás bons
resultados, nem mesmo porque é sábia, mas porque é feita em obediência ao senso
do dever e em consonância com o imperativo categórico. Ética não é a doutrina
de nos fazer felizes, mas de tornar-nos dignos da felicidade.
Qualquer ladrão
poderá triunfar se conseguir roubar o bastante?