FIFA já comprou ou
alugou 80% dos quartos de hotel de 4 ou 5 estrelas nas 12 cidades-sede da Copa
de 2014, visando comercializá-los a preços até 40% superiores aos que negociou
com os hotéis.
São poucos os que sabem que a operadora turística da FIFA,
uma empresa suíça chamada Match, já comprou ou alugou a maioria (80%) dos
quartos de hotel (de 4 e 5 estrelas) disponíveis nas 12 cidades-sede da Copa do
Mundo de 2014. Muito em breve, a Match pretende comercializá-los a preços até
40% superiores aos que negociou com os hotéis brasileiros, oferecendo-os a
torcedores que compram os pacotes de ingressos para partidas junto com a
hospedagem.
A prática não é novidade e aconteceu em Copas anteriores
também, mas no Brasil a diária média (US$ 450) chega a mais que o dobro da
cobrada na última Copa africana (US$ 200), por exemplo. Quem revela é o próprio
presidente da EMBRATUR, Flávio Dino, que conversou com jornalistas reunidos em
Brasília em um evento patrocinado pela Coluna Esplanada. O governo brasileiro
apresentou recurso no início de outubro para obrigar a operadora a reduzir os
preços. O medo é que a manobra deixe como legado para o Brasil a imagem de um
país caro demais para fazer turismo.
“Consideramos que as taxas de intermediação da Match são
abusivas,” disse Dino, que prevê acomodar no país 600 mil estrangeiros e 3
milhões de brasileiros durante os Jogos. “São mecanismos que visam o lucro
máximo e acabam ultrapassando a legitimidade”.
O BRASIL PARA
ESTRANGEIROS
Durante o evento da Coluna Esplanada, o presidente de EMBRATUR
fez também um panorama geral das expectativas para o turismo no Brasil nos
próximos anos. Até o fim do ano cerca de 6 milhões de estrangeiros terão
passado pelo Brasil, número muito inferior aos 60 ou 70 milhões que visitam
países como França, Espanha e México. Para Dino, a explicação está na
movimentação intra-regional, que precisa ser mais explorada no Brasil.
“Precisamos olhar mais para nossos vizinhos”, diz, explicando que a maioria dos
turistas na Europa são europeus e que no México, 90% dos visitantes são dos
EUA.
Ele apontou para três fatores que afetaram a América Latina
nas últimas décadas e prejudicaram a expansão do turismo intra-regional:
ditaduras, inflação e infraestrutura precária. “Temos problemas com preços de
passagens e falta de competitividade”, afirmou. Enquanto apenas 500 mil
americanos visitarão o Brasil este ano, cerca de 2 bilhões de brasileiros irão
às compras nos EUA. E ao contrário da facilidade de transporte entre países
vizinhos na Europa, “ninguém sai do Rio para Buenos Aires de trem”.
PAÍSES APOSTAS
Dos 18 países considerados os alvos mais importantes das
campanhas turísticas do governo, sete são latino-americanos — Argentina,
Paraguai, Uruguai, Colômbia, Peru, Chile, Bolívia, sendo que argentinos já
correspondem a 30% dos turistas no país. Além destes, a EMBRATUR vai investir
pesado em três lugares que considera apostas turísticas para os próximos anos:
Canadá (pelo grande número de turistas que saem do país todo ano), México (pela
afinidade com o Brasil em assuntos como futebol, como mostra o grande número de
ingressos para a Copa comprados por mexicanos) e Rússia (?). Ano que vem, será
a vez da China entrar nesta lista, afirmou Dino.
O turismo no Brasil representa 3,6% do PIB e emprega 10
milhões de pessoas. A renda anual gerada pelo setor é de US$ 6 bilhões ao ano.
VIOLÊNCIA
Segundo o presidente da EMBRATUR, até agora a imagem do país
não foi prejudicada pelos protestos violentos. A procura por ingressos da Copa
já ultrapassa em seis ou sete vezes a oferta.