segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

FIFA FAZ SETOR HOTELEIRO DE REFÉM À CUSTA DO TURISTA

FIFA já comprou ou alugou 80% dos quartos de hotel de 4 ou 5 estrelas nas 12 cidades-sede da Copa de 2014, visando comercializá-los a preços até 40% superiores aos que negociou com os hotéis.
São poucos os que sabem que a operadora turística da FIFA, uma empresa suíça chamada Match, já comprou ou alugou a maioria (80%) dos quartos de hotel (de 4 e 5 estrelas) disponíveis nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Muito em breve, a Match pretende comercializá-los a preços até 40% superiores aos que negociou com os hotéis brasileiros, oferecendo-os a torcedores que compram os pacotes de ingressos para partidas junto com a hospedagem.
A prática não é novidade e aconteceu em Copas anteriores também, mas no Brasil a diária média (US$ 450) chega a mais que o dobro da cobrada na última Copa africana (US$ 200), por exemplo. Quem revela é o próprio presidente da EMBRATUR, Flávio Dino, que conversou com jornalistas reunidos em Brasília em um evento patrocinado pela Coluna Esplanada. O governo brasileiro apresentou recurso no início de outubro para obrigar a operadora a reduzir os preços. O medo é que a manobra deixe como legado para o Brasil a imagem de um país caro demais para fazer turismo.

“Consideramos que as taxas de intermediação da Match são abusivas,” disse Dino, que prevê acomodar no país 600 mil estrangeiros e 3 milhões de brasileiros durante os Jogos. “São mecanismos que visam o lucro máximo e acabam ultrapassando a legitimidade”.
O BRASIL PARA ESTRANGEIROS
Durante o evento da Coluna Esplanada, o presidente de EMBRATUR fez também um panorama geral das expectativas para o turismo no Brasil nos próximos anos. Até o fim do ano cerca de 6 milhões de estrangeiros terão passado pelo Brasil, número muito inferior aos 60 ou 70 milhões que visitam países como França, Espanha e México. Para Dino, a explicação está na movimentação intra-regional, que precisa ser mais explorada no Brasil. “Precisamos olhar mais para nossos vizinhos”, diz, explicando que a maioria dos turistas na Europa são europeus e que no México, 90% dos visitantes são dos EUA.

Ele apontou para três fatores que afetaram a América Latina nas últimas décadas e prejudicaram a expansão do turismo intra-regional: ditaduras, inflação e infraestrutura precária. “Temos problemas com preços de passagens e falta de competitividade”, afirmou. Enquanto apenas 500 mil americanos visitarão o Brasil este ano, cerca de 2 bilhões de brasileiros irão às compras nos EUA. E ao contrário da facilidade de transporte entre países vizinhos na Europa, “ninguém sai do Rio para Buenos Aires de trem”.
PAÍSES APOSTAS
Dos 18 países considerados os alvos mais importantes das campanhas turísticas do governo, sete são latino-americanos — Argentina, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Peru, Chile, Bolívia, sendo que argentinos já correspondem a 30% dos turistas no país. Além destes, a EMBRATUR vai investir pesado em três lugares que considera apostas turísticas para os próximos anos: Canadá (pelo grande número de turistas que saem do país todo ano), México (pela afinidade com o Brasil em assuntos como futebol, como mostra o grande número de ingressos para a Copa comprados por mexicanos) e Rússia (?). Ano que vem, será a vez da China entrar nesta lista, afirmou Dino.
O turismo no Brasil representa 3,6% do PIB e emprega 10 milhões de pessoas. A renda anual gerada pelo setor é de US$ 6 bilhões ao ano.
VIOLÊNCIA
Segundo o presidente da EMBRATUR, até agora a imagem do país não foi prejudicada pelos protestos violentos. A procura por ingressos da Copa já ultrapassa em seis ou sete vezes a oferta.