"Na classe política, os marqueteiros constroem imagens,
escrevem discursos, determinam prioridades, até definem políticas públicas. Não
importa fazer, mas parecer que está fazendo."
Quanto tempo, meu caro leitor, você acha que é necessário
para se implementar uma reforma política? Um ano? Dois? Três? Um século? Cinco
séculos??? Quanto tempo, meu caro leitor, você acha que é necessário para se
modernizar uma estrada? Quanto tempo, meu caro leitor, você acha que é
necessário para limpar uma baía?
Numa reportagem publicada dia 19 passado, no “The New York
Times” foi exibida esta foto da Baía de Guanabara poluída. O local será palco
(?) de competições de vela nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Para o
carioca isso não é nenhuma novidade. Eu moro em Belo Horizonte há 19 anos.
Quando morava na Cidade Maravilhosa (?) não frequentava as praias de Botafogo e
Flamengo. Já naquela época e em épocas mais remotas ainda a Baía não oferecia
condições de salubridade propícias ao banho. Para os estrangeiros, isso é uma
surpresa. Pergunta que não quer calar: você, meu caro leitor, acha que até as
Olimpíadas alguma coisa vai mudar?
Vamos enumerar, sem nenhum esforço, as coisas que precisam
ser mudadas no Brasil há séculos: educação pública, saúde pública, segurança
pública, infraestrutura como portos, aeroportos e estradas,… Vou parar por aqui
porque senão não termino o artigo. Mas tudo continua como dantes! Após a
democratização do Brasil e o fim da ditadura militar, tivemos o Sarney, o
Collor, o Itamar, o FHC, o Lula e, agora, a Dilma. De mandato de coalizão à
aventura alagoana, de social democracia ao socialismo (?) petista bolivariano,
nada mudou de tão significativo. Sim, tivemos algumas vitórias. A estabilização
da moeda no período FHC/PSDB é uma. Outra, a inclusão social de boa parte da
camada mais pobre pelo Lula/Dilma/PT. Ok! Mas, aquelas mazelas seculares,
adicionadas a uma corrupção endêmica, continuam desenhando um quadro triste do
nosso país.
Já no que diz respeito à maquiagem, ao disfarce, à mentira,
estamos nos tornando especialistas no mundo. Na classe política, os
marqueteiros constroem imagens, escrevem discursos, determinam prioridades, até
definem políticas públicas. A forma é melhor que o conteúdo, como disse no
título. Não importa fazer, mas parecer que está fazendo. Não interessa
construir de verdade, mas parecer que está construindo. Sujeira tem seu lugar
garantido embaixo do tapete no Brasil. A capital do país é um reflexo disso:
linda, majestosa, impecável arquitetonicamente, mas horrível politicamente
quando olhamos o entorno e quando olhamos o interior e seus agentes. Brasília
nada produz a não ser burocracia. Não produz carne, soja, não fabrica
automóvel, não tem indústrias, etc. Isso não impede de ter um orçamento maior
que muitos estados da federação. Outra contradição!
Nós sempre soubemos disso. Não que aprovemos, mas não
conseguimos mudar mesmo saindo às ruas em número de milhões. A insensibilidade,
miopia, para não dizer pilantragem da classe política beira o mal feito, o mal
intencionado. Já se falou que Brasília não é caso de política, mas de polícia.
Eu costumo dizer que deve ser difícil ser comentarista político no Brasil
porque tem que procurar nobres ideais, nobres intenções onde só existe
fisiologismo, toma lá dá cá e corrupção. É como procurar água no deserto.
Assim caminhamos para uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas.
Tentando disfarçar as deficiências, esconder as falhas, tentando posar de país
emergente com uma população engajada e feliz. Violência? Não, mentira! Não
temos! Jeitinho brasileiro? Mentira! Quem disse? Cracolândia? Prostituição
infantil? Disparidades regionais radicais? Quem está inventando essas falácias?
Viva o Brasil! Vou cantar o Hino com toda a força de meus pulmões.
Quem sabe, se a seleção brasileira ganhar a Copa, podemos conviver com essas
deficiências por mais alguns séculos.
Por Marcelo de Abreu e Lima – Jornalista.