O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato, condenado a 12 anos e sete meses de prisão no processo do mensalão,
fugiu para a Itália. Ele próprio comunicou a fuga, em carta que foi divulgada
neste sábado pelo advogado Marthius Sávio Lobato. A Polícia Federal aguardava
que o ex-diretor do BB se entregasse - mas, aproveitando a dupla cidadania, ele
disse que exerceu seu "legítimo direito de liberdade para ter um novo
julgamento" no país europeu.
Na última sexta-feira, 15, no feriado da Proclamação da
República, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, expediu
mandados de prisão para 12 condenados, entre eles o ex-diretor do BB. Os
principais protagonistas do mensalão - o ex-ministro José Dirceu, o
ex-presidente do PT José Genoíno e Marcos Valério Fernandes de Souza - se
entregaram no mesmo dia.
O ex-tesoureiro petista Delúbio Soares se apresentou neste
sábado à PF. Apenas Pizzolato não se entregou. No sábado à tarde, a PF informou
que o nome dele será lançado na lista de foragidos da Interpol, organização
internacional de auxílio às polícias de diversos países.
O ex-diretor do BB foi condenado pelos crimes de corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Sua fuga tem potencial para causar
desgastes no governo federal. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
havia determinado ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que coordenasse os
trabalhos de cumprimento das ordens de prisão. Agentes federais, porém,
argumentam que a PF só recebeu formalmente os mandados expedidos por Barbosa às
17h de sexta-feira e não poderia monitorar antes os condenados porque não havia
ordem de prisão contra eles.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Pizzolato teria
deixado o País há cerca de 45 dias, por terra, atravessando a fronteira com o
Paraguai e chegando a Pedro Juan Caballero. De lá, ele teria seguido para a
Itália.
Até o final da manhã de sábado o delegado de plantão na
Polícia Federal no Rio, Marcelo Nogueira, ainda esperava que Pizzolato se
entregasse, conforme havia garantido seu advogado. Ele chegou a dizer que a
carta divulgada pela manhã devia ser "falsa" porque familiares de
Pizzolato sustentavam que ele se apresentaria às autoridades. Na noite de
sexta-feira, equipes da PF foram a dois endereços em Copacabana em busca do
ex-diretor do Banco do Brasil. Lobato confirmou, por volta das 11h30, que ele
já havia deixado o País. Depois, alegou que não trabalhava mais para Pizzolato
e que a fuga foi "uma posição pessoal e isolada" dele.
Na carta de 35 linhas, o ex-diretor do BB justifica sua fuga
dizendo que buscará uma nova sentença na Justiça italiana. "Por não
vislumbrar a mínima chance de ter um julgamento afastado de motivações político
eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente
fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na
Itália, em um Tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial,
como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália", escreveu.
Pizzolato sugere ter sido usado. "Fui necessário para
que o enredo fizesse sentido. A mentira do ‘dinheiro público’ para condenar...
Todos. Réus, partidos, ideias, ideologias". Ele não cita diretamente os
ministros do STF, mas fala em "decepção" durante o julgamento com a
"conduta agressiva daquele que deveria pugnar pela mais exemplar
isenção".
O presidente da Corte, Joaquim Barbosa, determinou há um ano
a apreensão dos passaportes dos condenados no processo, inclusive os de
nacionalidade estrangeira. A defesa de Pizzolato alegou na época que ele havia
entregado os dois passaportes. Em julho de 2012, pouco antes do início do
julgamento, Pizzolato já havia deixado o País. Voltou apenas em outubro do ano
passado, quando já tinha sido condenado.
O ministro Marco Aurélio Mello lembrou neste sábado o caso
do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, condenado no País por crimes contra o
sistema financeiro. Com dupla cidadania, Cacciola foi preso, mas depois
beneficiado por um habeas corpus - concedido pelo próprio Marco Aurélio. Ele
viajou para a Itália em julho de 2000, via Uruguai. "Eu penso que a legislação
italiana, semelhante à nossa, não defere extradição de nacional com dupla
cidadania", disse, Cacciola só foi preso novamente em 2008, em Mônaco, de
onde foi extraditado para o Brasil.
MILITANTE.
Pizzolato ocupava a diretoria do Banco do Brasil como
filiado ao PT e militante da sigla desde a sua fundação. No mensalão, foi
acusado de liberar irregularmente o repasse de R$ 73 bilhões da Visanet para a
DNA Propaganda, agência de publicidade da qual Marcos Valério era sócio. Ele
chegou a concorrer a vice-governador do Paraná pelo PT em 1994, mas sem
sucesso. Também foi presidente do Sindicato dos Bancários em Toledo (PR) e da
CUT no Estado.
Antes de assumir a diretoria do Banco do Brasil, foi diretor
da Previ, fundo de pensão dos funcionários da instituição, numa época em que a
diretoria era dividida em correntes ligadas ao então secretário de Comunicação
do governo federal Luiz Gushiken e José Dirceu. Pizzolato participava da ala
mais ligada a Dirceu.