Por Alessandro Greco
Recentemente uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que
mulheres expostas a altos níveis de poluição têm duas vezes mais chance de ter
filhos com autismo do que aquelas que não sofreram exposição. Com o resultado
do trabalho, feito pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, o
autismo se soma à lista de males à saúde causados pela poluição.
“Sabe aquela lista de doenças que você vê estampada nos
maços de cigarros como infarto, acidente vascular cerebral, câncer de pulmão,
complicações na gravidez. Então todas elas a poluição também causa, porém em
uma escala menor”, afirmou Paulo Saldiva, professor de patologia da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo e do Laboratório de Poluição
Atmosférica da mesma instituição.
Saldiva alerta, no entanto, que embora seja em menor grau,
os efeitos da poluição afetam mais pessoas. “A questão é que no Brasil 10% a
15% da população é fumante. No caso da poluição do ar todo mundo está exposto.
Ninguém escapa”.
Atualmente consequências da poluição do ar como doenças
cardiorrespiratórias e câncer do pulmão são responsáveis por 4.655 mortes na
cidade de São Paulo, segundo o estudo Avaliação do Impacto da Poluição
Atmosférica no Estado de São Paulo Sob o Ponto de Vista da Saúde do Instituto
Saúde e Sustentabilidade, que será publicado no dia 23 de setembro. “Este
número é três vezes maior do que o de as 1.556 mortes causadas por acidente de
trânsito no mesmo período”, afirmou Evangelina Vormittag, médica e
diretora-executiva do Instituto Saúde e Sustentabilidade.
A estimativa do estudo é que a poluição seja responsável
pela redução de 1,5 anos de vida na região metropolitana de São Paulo, com um
custo que varia, dependendo da metodologia utilizada, de centenas de milhões de
reais a até mais de um bilhão por ano. “A solução é mais transporte público e a
substituição da frota a diesel. Ela é 10% do total de veículos e gera 50% da
poluição”, afirmou Saldiva. Ainda segundo dados da pesquisa do Instituto Saúde
e Sustentabilidade, caso todos os ônibus a diesel passassem a usar etanol,
haveria redução de 4.588 casos de internação hospitalares e 745 casos de morte
por ano, o que equivale à diminuição dos gastos públicos em US$ 1,4 bilhão por
ano.
Se nada for feito, porém, a situação só tende a piorar.
Segundo relatório da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OECD), a poluição por material particulado e ozônio será a principal causa de
morte relacionada ao meio ambiente no mundo até 2050, caso providências não
sejam tomadas. “O problema é que nos ensinaram a vida toda que o transporte
público não funciona então a mensagem acaba sendo: vá de carro”, afirma
Saldiva.
Pode-se, porém, mitigar um pouco as consequências da
poluição com atitudes razoavelmente simples. “Uma pessoa que vá de bicicleta e
outra de carro, por exemplo, de casa para o trabalho. É melhor ir de bicicleta,
pois irá respirar menos poluição.”, afirmou Saldiva. A explicação é simples: o
carro é um local fechado que dificulta a dispersão dos poluentes enquanto na
bicicleta, além da maior dispersão, o tempo de deslocamento acaba, em geral,
sendo menor.
Fazer exercícios em meio a poluição, como caminhar ou correr
em uma grande avenida, pode parecer um contrassenso, mas, no final, é melhor do
que não fazer atividade física nenhuma. “Os benefícios para a saúde superam os
riscos de se respirar o ar poluído. Agora se puder correr ou andar em um local
com menos movimento de carros é melhor.”, explicou Saldiva.
Evitar os males causados pela poluição em uma cidade como
São Paulo, a maior do Brasil, é complicado. “Individualmente é muito difícil.
E, se a pessoa estiver entre as camadas menos favorecidas, vai respirar mais
poluição, pois geralmente mora longe do trabalho e não pode rescalonar o
horário de trabalho.”, afirmou Saldiva. E completou: “De forma geral, o que, em
tese, você poderia fazer para melhorar as suas condições em relação à poluição
a sua genética já fez por você, dando uma maior resistência ou não”.