terça-feira, 22 de março de 2011

LÍBIA ATRAPALHOU FOCO DE VISITA DE OBAMA AO BRASIL

Estudioso americano diz que resultado de viagem foi 'decepcionante'.
Tensão no país de Kadhafi teria disputado atenção do presidente dos EUA.
A pauta da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil foi prejudicada pelo início das ações da coalizão aliada na Líbia, avalia Peter Hakim, presidente emérito do instituto de pesquisa Inter- American Dialogue. “Houve uma distração enorme porque o presidente Obama estava sempre sensível com o que estava acontecendo na Líbia e as decisões que tinha que tomar", disse ele, que é um dos mais respeitados analistas das relações entre EUA e as Américas.

Hakim definiu a visita do presidente norte-americano ao Brasil neste fim de semana como decepcionante, mas ao mesmo tempo promissora. A decepção é justificada pois, na opinião dele, não houve avanços significativos e nenhum acordo de peso foi firmado. Hakim explicou que isto aconteceu “basicamente porque o presidente Obama já saiu de Washington sem nada concreto para oferecer, sem uma definição clara sobre temas importantes”.

Para ele, tanto o presidente Obama quanto a presidente Dilma Rousseff evitaram falar de temas polêmicos e focaram muito mais em questões econômicas do que nos grandes temas geopolíticos e nos maiores desafios, como a questão do Irã e dos programas nucleares.

Conselho de Segurança

“Os EUA ainda não estão levando o Brasil completamente a sério”, disse Hakim. O estudioso acredita que o Brasil tem que mostrar que mudou em relação ao Irã e precisa completar alguns passos para conseguir o apoio público dos EUA para obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. “As declarações do presidente Obama sobre esta aspiração brasileira ainda são muito vagas e indefinidas”, analisou.

Hakim afirmou que ainda é prematuro prever uma mudança de atitude do novo governo brasileiro e que ainda não há indicação de uma grande mudança em relação à política externa. "O Brasil tem uma característica em sua política internacional que é o alto grau de continuidade”, disse.

Por outro lado, o estudioso também viu um aspecto promissor na viagem. Para ele, a visita foi muito positiva para a relação pessoal dos dois presidentes. “Eles tiveram um bom papo” e para a diplomacia pessoal deles a visita foi importante.

Sobre o futuro, Hakim falou que Brasil e os EUA precisam aceitar que vão ter choques de idéias mais frequentes e aprender a tolerar o conflito de interesses. Para o especialista, as divergências são inevitáveis e vão acontecer cada vez mais, principalmente porque o Brasil está chegando agora no "topo da montanha" das relações internacionais. “Devemos esperar choques”, concluiu.