sábado, 26 de maio de 2012

DROGAS: VICIADOS E SUAS FAMÍLIAS SÃO AS PRIMEIRAS VÍTIMAS


Antes mesmo de praticar a violência nas ruas para sustentar o vício, dependentes químicos têm suas vidas e famílias destruídas e serem mortos por não pagar dívidas de tráfico e quase só uma questão de tempo.
Por Xandu Alves S. J. dos Campos/SP
A droga é amante da violência. E elas não aceitam discutir a relação. Aprisionam em um espiral de medo e desespero, não raro terminando em morte, quem busca o flerte. Em pouco tempo, usuários de drogas e seus familiares se tornam reféns no círculo de destruição.
Não há amor que dure diante da droga. Nem entre mãe e filho. Bem o sabe a doméstica I.S., 42 anos, que acorrentou o filho de 13 anos no sofá de casa para evitar que ele consumisse crack.
Ela morava na região sul de São José e tentava tirar o filho do vício desde os 10 anos. Não conseguiu. A saída foi acorrentá-lo para evitar a morte do menino.
“Se aquilo não terminasse, a única solução era matar meu filho e depois me matar. Não havia mais vida”, disse ela, que mandou o jovem para morar com o pai, no Piauí, no ano passado, para vê-lo longe dos traficantes.
Tragédias.
Duas facadas no peito do filho. Assim terminou a relação do rapaz de 27 anos com sua mãe.
Ela fugia de uma tentativa de estupro dele, que era viciado em crack, quando o rapaz pegou uma faca e a ameaçou. Eles brigaram e, com duas estocadas no peito, a mãe matou o filho.
A família morava no Motorama, na zona leste de São José, e o crime ocorreu em fevereiro do ano passado.
Sem antecedentes criminais, uma mulher de 53 anos, de Taubaté, foi assassinada ontem com três tiros na cabeça por dois homens em uma moto. Para a polícia, o crime pode ter sido uma represália ao filho dela que está preso.
Há medida para o tamanho da destruição na vida dessas famílias? E na de centenas de usuários de drogas que ganham as ruas, diariamente, nas cidades do Vale do Paraíba?
A cada tragada de crack, a ligação familiar se rompe um pouco mais até não existir vínculo algum. Os dependentes e seus familiares vivem à mercê do crime.
 Degradação.
 Entre ratos e baratas, o morador de rua A.S.S, 41 anos, sustenta o vício de duas décadas.
A tubulação do Anel Viário, na região central de São José, é onde consome maconha, cocaína ou crack. Sem dinheiro, no entanto, precisa fazer malabarismo para pagar os traficantes e continuar vivo. Comete pequenos delitos pelas ruas da cidade ou furta fio de cobre para vender. Assim, garante a sobrevivência no perigoso submundo das drogas.
Vindo do Piauí, há 20 anos, onde deixou mulher e dois filhos, A. pretendia voltar depois de melhorar de vida.
Não deu tempo. Ele caiu na farra e virou refém das drogas. Nunca mais mandou notícia à ex-esposa. Acabou sozinho na cidade, entregue ao vício.
Pânico.
Caminho parecido fez um usuário de drogas que buscou tratamento no Caps-Ad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) de São José, no final de 2011.
Ele entregou-se ao vício durante 23 anos. Flertou com a morte e acha que foi poupado por Deus. “Tomei coragem depois que meu filho pediu para não usar mais drogas”, disse.
Hoje, aos 42 anos, ele marca com orgulho o tempo que está sem se drogar: “dois meses e 24 dias”. Sabe que é uma luta interminável e da qual não se pode abaixar a guarda.
“Crack é a droga do pânico. Eu vivia com medo de a minha família descobrir meu vício. Tinha alucinações com isso.”