Há 20 anos, a canadense Severn Cullis-Suzuki
ficou conhecida como “a menina que silenciou o mundo por cinco minutos” por seu
discurso feito para delegados e chefes de Estado na Rio 92. Aos 12 anos de
idade, conseguiu emocionar os presentes no Riocentro com frases marcantes como
“sou apenas uma criança e não tenho as soluções, mas quero que saibam que vocês
também não têm”.
Já
crescida, com 32 anos, mãe de dois filhos e pós-graduada em etnobotânica,
Severn retorna ao Brasil para a Rio+20, e quer mais uma vez a atenção dos
chefes de Estado para alertar que desde 1992, quase nada mudou.
Amanhã (12), em preparação à cúpula da ONU, faz uma palestra na
TedXRio+20, realizado no Forte de Copacabana, dentro do projeto Humanidade
2012.
Nas duas
oportunidades, a ativista tentará alertar que o mundo não conseguiu superar
seus problemas ecológicos existentes há duas décadas, já que os governantes
“pensam apenas na incerteza econômica, não na ambiental”.
Ela afirma
que a população ainda não percebeu o significado da crise ecológica e que
“estamos vivendo um novo evento de extinção em massa no planeta”.
Sobre ao
Brasil, Severn diz que o país tem, na Rio+20, a chance de assumir a liderança
ambiental, mesmo, segundo ela, o governo tendo comprometido a Amazônia ao mudar
o Código Florestal e autorizar as obras da hidrelétrica de Belo Monte, que
considera uma “tragédia para o mundo”.
Discurso –
Severn conta que seu discurso na Rio 92 ocorreu após convite das Nações Unidas,
que tentava reajustar o cronograma das plenárias de chefes de Estado. Ela, que
estava no Brasil junto com outros adolescentes da ONG Eco (Environmental
Children’s Organization, fundada por Severn) foi escolhida para falar aos
delegados e utilizou o período de cinco minutos para abordar questões
importantes como o buraco na camada de ozônio e o impacto da mudança climática
em seu país, o Canadá.
“Vi que
muitas pessoas choraram após o discurso. Desde então, milhões de pessoas viram
o vídeo [que está no YouTube e já teve mais de 23 milhões de acessos]. Ainda
recebo correspondências sobre isso, mas 20 anos depois, o que mudou? Ainda
procuro provas de que minhas palavras fizeram diferença”.
Severn
afirma que nas duas décadas que se passaram, a comunicação e a velocidade da
informação melhoraram devido à internet. Mas, na perspectiva ecológica, o mundo
continua “em sérios apuros”. Para ela, “nosso estilo de vida está com prazo
estourado e não seremos capazes de sustentá-lo, pois nossos ecossistemas estão
no limite”.
Ela comenta
que a mudança climática é um crime “intergeracional”, ou seja, que passará por
várias gerações, e se diz envergonhada com a atitude do governo do Canadá ao se
retirar do Protocolo de Kyoto, em dezembro de 2011, por não conseguir cumprir
as metas de redução de gases de efeito estufa.
“Estou
absolutamente envergonhada. Em 20 anos, meu país deixou de ser um campeão da
sustentabilidade para se tornar um retardatário ambiental”.
Brasil e
Rio+20 – Sobre a discussão ambiental no Brasil, Severn diz que empreendimentos
como a usina hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Rio Xingu, no Pará,
só demonstram que o mundo não valoriza os serviços ambientais da Amazônia. Ela
se diz desapontada com o andamento da construção e com mudanças recentes na legislação
ambiental (Código Florestal) que “irão comprometer a floresta devido ao aumento
da exploração madeireira”.
“É o pulmão
do mundo e devemos pagar para que a Amazônia permaneça intacta”.
Sobre a
Rio+20, a canadense afirma que a conferência só conseguirá êxito se os governos
deixarem de pensar nas crises econômicas e passarem a planejar uma forma de
socorrer o meio ambiente nos mesmos métodos aplicados para socorrer bancos, com
a injeção de dinheiro. “Devemos reduzir nossa pegada ecológica e começar a usar
a nossa voz.”
Questionada
sobre qual será o cenário do mundo daqui 20 anos, na Rio+40, Severn foi
enfática: “verei isto a partir da próxima semana”.